Preciso criar minha própria ilha
Preciso criar uma Ilha, uma teia
Uma caixa de vidro, uma oca, uma maloca
uma palhoça ... algo que me distancie,
que me ponha a salvo de todos e me isole completamente de tudo.
Sempre vivi só, porém olhando a vida com mais cuidado,
eu ja começo a desconfiar da solidão.
Vivi até agora a realidade dos livros, mas
começo a ter medo do fluxo de personagens.
Não conheço suas naturezas
E já acredito que eles vão saltar dos romances para me subjugar.
Tenho personagens soldados, chapados,
Expulsos das guerras.
Personagens que amam barbaramente
sem se importarem com afrontas
ou julgamentos de quem a tudo assiste
com vontade de interferir.
Tenho aspirações ... onde nada é inspirador.
Separe estas palavras.
.
Preciso usar de delicadeza ao agir,
e ser, acima de tudo, delicado e nobre
onde pretendo interagir.
.
Não sei arrumar as nuvens,
controlar suas constantes mutações sem trocar farpas com o vento ou molhar integralmente as minhas emoções.
A realidade (em mim) se manifesta
através dos romances,
E só agora arrisco-me a enfrentar
a linhas invariáveis da crueldade.
O que conheço do mundo: a prosa ruim das comadres,
os contos dos vigarios e os
sonetos empilhados em caixa de ácaros.
Não tenho costas largas para carregar tanta coisa.
Nado na costas brava, na quarta,
cometo poesia de quinta, na sexta
Nos roteiros, as grandes avenidas
são outeiros, com ladeiras e igrejinha
no topo.
As ruas são naturalmente floridas
os castelos assombrosos
As princesas não menstruam
As rainhas não parem e são eternas,
e vivem maquiadas, como bibelôs de louça.
Os reis não se endividam, e comem de tudo
com parcimônia.
Os príncipes são sempre cavalheiros, mas
apaixonadamente sagazes e imbatíveis
sobre os arreios.
Diga-me, sinceramente. Nesse mundo ordinário,
Com quem eu poderei abrir uma caixa de diálogos?
CK
Carlos Kahê
Enviado por Carlos Kahê em 11/05/2025