A seda azul da noite
Quando olhou os céus e viu apagada
A sua estrela-guia
Ela derrubou os abrigos de chuva
Rasgou os agasalhos de frio
E seguiu a vida.
Deixou pelo caminho o ouro, o incenso
e as lições simples do anoitecer.
Nos albergues itinerantes, ficaram
os seus pudores noturnos
e as tintas azuis das asas da esperança.
No alvorocer,
Os pássaros se multiplicaram
Sobre os seus farelos.
Ela ouviu nas canções da estrada,
Que a vida é perfeita, se houver desafios.
Pagou as culpas silenciosas da casa
e esqueceu as imperfeições amorosas.
Com um bodoque de aço,
lancou distante suas pedras renais.
Empenhou o seu anel de brilhante
A apagou nos céus dos coração
os seus clarões sentimentais.
Não retornará ao tempo perdido,
sem a estrela,
e pretende colher em paz
os cogumelos selvagens
Escalar as jabuticabeiras da infância
Ignorando o mato crescido
E os incestos.
A gramínea verde, ela estendeu
às sementes,
Que serviu-lhe de lençóis.
Bebeu a água corrente
Deixou o cavalo seguir sozinho,
E, assim, sozinha, ela rompeu o rio...
Não conhecia a natureza
de cada fonte,
E o porquê de o rio correr
feito as serpentes.
Abriu o farnel na sombra
E deixou o cão correr feliz.
Vestiu a simplicidade da seda azul da noite
Sentiu-se plena e quis se merecer.
Fez a cama com o que colheu da vida.
A insônia trouxe as frias estrelas, que a fizeram despir-se do passado.
Ouviu a sinfonia de grilos,
e dormiu sobre o murmúrio das águas
Não ouviu o que a vida tinha a lhe dizer.
Dormiu pacificamente,
como alguém que espera um naipe de violinos vir
cuidar das suas harmonias.
Autor : Carlos Kahê
Carlos Kahê
Enviado por Carlos Kahê em 11/03/2025