O nosso tempo não passou
Chegamos ao momento de pensar
em quem já passou.
A coisa que me lembra o passado é um jornal e não
precisamos de jornais que digam que somos infelizes.
Os grandes talentos estão morrendo, e o tempo deixou que morressem,
sem exigir que mantivessem os originais.
Eu disse isso na tribuna.
Foi o suficiente para começarem uma guerra.
As conversas ficaram truncadas, as opiniões divididas, geralmente interrompidas pela indiferença.
Os espacos cresceram,
os pregões ficaram vazios
e a distância se perdeu entre nós.
Nos agredimos, verbalmente.
Não diminuímos o nosso tamanho.
Nos distanciamos de tudo e fomos viver empilhados, sem nos conhecer.
Não entendo as agressões aos grandes artistas, e aos artifices que usam as leis com seriedade.
Para eles, a lua poderia morrer.
As marés poderiam secar, mas
a lua não morreu e os oceanos
não secaram.
Exigimos um decreto pelo direito de chuva
e de abundância, para o sertão.
Enquadramos os rios um pouco mais
para o sul:
e os peixes migraram em comboios, e
os arroios que mais enriqueceram, se concentraram em multidões de bagres.
Tem blocos de peixes nos canaviais, e peixes afogados nos sangradouros. Roubarem a liberdade dos meninos desde o nascedouro:
eles agora já envelhecem nos pré-natais.
Sem os seus tambores, os meninos viverão sem expressar sua liberdade; amanhã o futuro os acordará, e eles seguirão para a guerra, de mãos vazias. De barrigas vazias, eles farão festa para a solidão.
Homens lentos,
vestindo ternos de interesses,
fincarão as colheitas de futuro em suas armadilhas, onde todos falam mal dos sensatos e nesses falares, eles sempre roubam a consciência de muitos.
CK
Carlos Kahê
Enviado por Carlos Kahê em 11/02/2025