Kahê em pessoa
Potências que existem em nós.
Textos
Meu Fevereiro

Fevereiro é a rua onde se ergue a minha casa natural entre os astros.
É bom saber-me admirado, em noite sem rojões, de muitas cores, mas  sem orquestra. Tenho apreço pelo abraço. Isto não tem preço.
Tenho esperança no hoje.  O futuro é um arame
sobre o qual deverei caminhar e cumprir bem
o sentido da vida.
Tenho  grande conceito de mim mesmo.
Sou coração.
Sou emocional.
O mundo-cão é que é rigoroso.
Vim de uma floresta provinciana, uma mata orgulhosa que é origem do meu ser mais admirado.
O que fiz de mim, ainda vou saber.
Terei muita vida hoje.  Do amanhã, nada
posso dizer.
Meu alimento é o passado
E se vou comemorar o meu dia, quero ter do meu lado pessoas plenas de histórias.
Agradeço à vida, pela minha casa construída
com o meu trabalho,
e a Deus, a sorte de não terem morrido
Todos os meus amores.
Sou sobrevivente de mim-mesmo.
Sou um fósforo frio que ainda acende e renova a passagem pelo tempo, soprando influências e acendendo muitas flores.
Soprar velinhas é dizer da gratidão pela vida.
O desejo  da minha alma é pela renovação em meu entorno.
Essa é a minha viagem metafísica e carnal.
Não sei comer o presente e não rever o pão
da fome no mundo;  sentir o gosto da manteiga na língua, e não pensar em quem nada tem de fecundo.
Tudo isso está muito vivo em mim,
e com uma nitidez que me cega.
Cumprir anos é uma maneira de resistir
E de reforçar os laços eternos.
A poesia não me deixa envelhecer.
Serei velho, quando envelhecer o coração.
Amo a música e idolatro a poesia.
Velho é quem mata esses amores em vida.
Velho é um barco triste, onde as gaivotas
fazem sentinela.
Vivo na companhia do meu passado: um belo senhor, invisível, que caminha ao meu lado com o seu impecável terno de silêncios.
Chegamos até aqui.
Não quero continuar esquecido, pois sou essa coisa que acredito ser.
Sou muito mais luz do que nuvem.
Fixado na harmonia de tudo, elevo a minha gratidão aos deuses.  
Ao deus Olorum e ao Pai Oxalá.  
A Exu e a todos os meus Orixás.
Ainda terei muitos teares a tecer,
pela graça de ainda poder estar aqui,
e de me pertencer.
Carlos Kahê
Enviado por Carlos Kahê em 10/02/2025
Alterado em 10/02/2025
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