Tenho natureza de passarinho de vila.
Do galho para a água, da flor para a pedra,
Da árvore para a argila ...
Meu coração é a casa que guardei,
para nele viver sem mágoas.
Da argila para a água, do galho  para a pedra, as flores quando flores, não colhem mágoas.
Guardei os amigos ... a lista é pequena,
Mas são quem ainda consertam
as minhas falhas.
Eles dão vida a fragmentos desamparados
Amparando os que optaram pela vida amena.
A poesia em nós é desigual, mas deságua.
Sou feliz assim.
Sou o perecível que entende o desordenado.
O exercício do cérebro usina o meu conjunto de palavras.
Na lata colorida do cinema, guardo rolos de tensões vazias.
Não tenho pressa com as trilhas,
Não tenho a natureza das nuvens,
Tenho o arquétipo distinto das armadilhas.
Meus versos obscenos se organizaram, antes
de explodir a lavra.
Nas águas do meu silencio, concluo com novas palavras,
a intimidade, com que deságuo no diverso.
Na ponta do punhal, há sempre um resquício de sangue.
Isso não me engana.
Isso, não me arrasa.
Na placidez da minha garganta, mesmo gritando de calos,
digo um carinho ao verso, que em plena redondilha
me extravasa.
Na catedral de Montmartre,
A homilia de belas palavras fez o mundo me enternecer.
Não me ajoelhei, apenas chorei contido.
Estava diante da poesia de pedra e da razão.
A bela canção dos negros, no largo, desceu pelas ondas do mundo,
pela beleza cantada entre flores, argila e águas de emoção.
Declamo minha poesia, em paz e sozinho.
Pelo verso se reconhece o artífice.
A arte eficiente do orgulhoso capacita sua incredulidade!
O homem medroso caminha, anônimo, na escuridão da rua,
tranquilo, ele segue cooptado pelos sacrifícios.
Em Montmartre, vivi dias de euforia.
Ainda não conheci todos os painéis de mágoas.
Mas vivo a tatear, como um pobre ser abatido.
A alegria que me acende, ainda que tardia,
acorda este sonhador em Paris.
Paris é a foz em que os rios do mundo desaguam.

CK