Kahê em pessoa
Potências que existem em nós.
Textos
Cantos de Afoxé


A minha cidade tem ladeiras
Tem terreiro e um céu de algodão.
Na esquina dos bons despachos
Tem axé e atabaques
Tem milagres, enterros e procissão.
Em minha cidade, sob o céu azul
Os pássaros têm suas penas livres.
Canto ao Senhor dos pássaros, passaredo
Terreiro de sedução.
Nem todo homem é justo.
Alguns comungam com a bondade
Há inúmeros com tons de insanidade
Esses cobrem os céus da cidade, onde
Para cada egoísmo há dois vilões.
Há os heróis com suas armaduras de vaidade,
Mas, se todo herói tem medo,
A covardia corrói em segredo sua realidade.
Em minha aldeia tem flores,
Tem céus com espaço para drones e aviões.
À noite, as estrelas levam longe o meu cansaço
Quando o mel se livra do bagaço,
As abelhas o acolhem com profunda
E silenciosa devoção.
A minha aldeia teve seus dias de glória e de tristezas.
Dias de revolta e de heroísmos.
Sabemos o que é orgulhoso e o que é vergonhoso.
Não é o caso de desenhar vales de lágrimas
Nem contradizer o paraíso.
Há quem não valha o pum de um cigano.
Quando a palavra do homem não é perfeita.
Desligo. Foi engano.
Não buscaremos os amigos, nos dias
Em que a má vontade traz a desfeita.
Esta é a obra imperfeita.
Melhoramos o risco,
Pois nem todos sobrevivem à rua Direita.
Se estou triste, rio.
Se estou muito triste, coro.
Se o motivo é a minha razão, eu luto.
Se a questão é o teu abraço, desfruto.
No dia em que me falta o amor.
Desligo o curto-circuito. Fico puto,
mas não choro.

CK
Carlos Kahê
Enviado por Carlos Kahê em 28/01/2025
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